Monday 4 August 2008

Relacionamentos (Arnaldo Jabor)

Sempre acho que namoro, casamento, romance tem começo, meio e fim. Como tudo na vida. Detesto quando escuto aquela conversa:- 'Ah,terminei o namoro...'- 'Nossa,quanto tempo?'- 'Cinco anos...Mas não deu certo...acabou'-É não deu... Claro que deu! Deu certo durante cinco anos, só que acabou.E o bom da vida, é que você pode ter vários amores. Não acredito em pessoas que se complementam. Acredito em pessoas que se somam. Às vezes você não consegue nem dar cem por cento de você para você mesmo, como cobrar cem por cento do outro? E não temos esta coisa completa. Às vezes ele é fiel, mas não é bom de cama. Às vezes ele é carinhoso, mas não é fiel. Às vezes ele é atencioso, mas não é trabalhador. Às vezes ela é malhada, mas não é sensível.Tudo nós não temos. Perceba qual o aspecto que é mais importante e invista nele.Pele é um bicho traiçoeiro. Quando você tem pele com alguém, pode ser o papai com mamãe mais básico que é uma delícia. E as vezes você tem aquele sexo acrobata, mas que não te impressiona...Acho que o beijo é importante...e se o beijo bate...se joga...se não bate...mais um Martini, por favor...e vá dar uma volta. Se ele ou ela não te quer mais, não force a barra. O outro tem o direito de não te querer. Não lute, não ligue, não dê pití. Se a pessoa tá com dúvida, problema dela, cabe a você esperar ou não. Existe gente que precisa da ausência para querer a presença. O ser humano não é absoluto. Ele titubeia, tem dúvidas e medos mas se a pessoa REALMENTE gostar, ela volta. Nada de drama. Que graça tem alguém do seu lado sob chantagem, gravidez, dinheiro, recessão de família? O legal é alguém que está com você por você. E vice versa. Não fique com alguém por dó também. Ou por medo da solidão. Nascemos sós. Morremos sós. Nosso pensamento é nosso, não é compartilhado. E quando você acorda, a primeira impressão é sempre sua, seu olhar,seu pensamento. Tem gente que pula de um romance para o outro. Que medo é este de se ver só, na sua própria companhia? Gostar dói. Você muitas vezes vai ter raiva, ciúmes, ódio, frustração. Faz parte. Você namora um outro ser, um outro mundo e um outro universo. E nem sempre as coisas saem como você quer...A pior coisa é gente que tem medo de se envolver. Se alguém vier com este papo, corra, afinal, você não é terapeuta. Se não quer se envolver, namore uma planta. É mais previsível. Na vida e no amor, não temos garantias. E nem todo sexo bom é para namorar. Nem toda pessoa que te convida para sair é para casar. Nem todo beijo é para romancear. Nem todo sexo bom é para descartar.Ou se apaixonar. Ou se culpar.Enfim...quem disse que ser adulto é fácil? Arnaldo Jabor!

Friday 15 February 2008


Entre as Pérolas da calçada. Ou...
Fragmentos esparsos de copy paste, serpenteados de recriação pessoal, numa tentativa ensaística de cirandar em pés descalços e colo ajaezado, em dolorosa senda de transmutação de pés de barro em pés de santo. Ou...
O advento dos nossos calos madrepérola...

A Natureza é sábia no que faz.
Não há absolutamente nenhum exemplo dado por Ela que nós não possamos tomar para reflectir melhor sobre a nossa vida:
A Pérola nasce do sofrimento da Ostra.
Para poder sobreviver, a ostra tem que se abrir completamente para captar os nutrientes da água. Nesse momento, porém, em que se abre ao exterior para poder nutrir-se, de forma inexorável ela pode ingerir também algum corpo estranho, um grão de areia. Ao adentrar na ostra, o grão de areia fere o seu interior, mas mesmo assim, a sua sobrevivência depende desse gesto frágil e vunerável que a nutre.
O destino da ostra é, assim, viver esta ambivalência essencial, o dilema de nutrir-se, sob o risco de enfrentar algum sofrimento, ou permanecer hermeticamente fechada e morrer por entropia e inanição.
Entre a morte certa e a possibilidade de uma vida pontuada pelo sofrimento, ela naturalmente opta pelo risco de lidar com a incerteza e a inexorabilidade, expondo-se e sendo invadida pelo grão de areia.

Quando um grão de areia a penetra, a parte interna da sua concha, designada nácar, começa a trabalhar cobrindo o grão de areia em sucessivas camadas, a fim de proteger o seu corpo indefeso.
Desta alquimia surge uma linda pérola.

Uma ostra que não foi ferida, não produz pérolas, pois a pérola é uma ferida cicatrizada.



*

Disse uma ostra à ostra, sua vizinha:


-Sinto uma grande dor dentro de mim. É coisa pesada, redonda, que me magoa.

-Louvados sejam os céus e os mares, respondeu a outra, com altiva condescendência. Eu não sinto dor nenhuma. Estou boa e sã por fora e por dentro.

Nesse instante, um caranguejo que passava ouviu as duas ostras e disse à que estava boa e sã por dentro e por fora:

-Sim, estás boa e sã; mas a dor que a tua vizinha sente é uma pérola de extraordinária beleza.


Khalil Gilbran