Friday 15 February 2008


Entre as Pérolas da calçada. Ou...
Fragmentos esparsos de copy paste, serpenteados de recriação pessoal, numa tentativa ensaística de cirandar em pés descalços e colo ajaezado, em dolorosa senda de transmutação de pés de barro em pés de santo. Ou...
O advento dos nossos calos madrepérola...

A Natureza é sábia no que faz.
Não há absolutamente nenhum exemplo dado por Ela que nós não possamos tomar para reflectir melhor sobre a nossa vida:
A Pérola nasce do sofrimento da Ostra.
Para poder sobreviver, a ostra tem que se abrir completamente para captar os nutrientes da água. Nesse momento, porém, em que se abre ao exterior para poder nutrir-se, de forma inexorável ela pode ingerir também algum corpo estranho, um grão de areia. Ao adentrar na ostra, o grão de areia fere o seu interior, mas mesmo assim, a sua sobrevivência depende desse gesto frágil e vunerável que a nutre.
O destino da ostra é, assim, viver esta ambivalência essencial, o dilema de nutrir-se, sob o risco de enfrentar algum sofrimento, ou permanecer hermeticamente fechada e morrer por entropia e inanição.
Entre a morte certa e a possibilidade de uma vida pontuada pelo sofrimento, ela naturalmente opta pelo risco de lidar com a incerteza e a inexorabilidade, expondo-se e sendo invadida pelo grão de areia.

Quando um grão de areia a penetra, a parte interna da sua concha, designada nácar, começa a trabalhar cobrindo o grão de areia em sucessivas camadas, a fim de proteger o seu corpo indefeso.
Desta alquimia surge uma linda pérola.

Uma ostra que não foi ferida, não produz pérolas, pois a pérola é uma ferida cicatrizada.



*

Disse uma ostra à ostra, sua vizinha:


-Sinto uma grande dor dentro de mim. É coisa pesada, redonda, que me magoa.

-Louvados sejam os céus e os mares, respondeu a outra, com altiva condescendência. Eu não sinto dor nenhuma. Estou boa e sã por fora e por dentro.

Nesse instante, um caranguejo que passava ouviu as duas ostras e disse à que estava boa e sã por dentro e por fora:

-Sim, estás boa e sã; mas a dor que a tua vizinha sente é uma pérola de extraordinária beleza.


Khalil Gilbran

2 comments:

De Carvalho Júnior said...
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De Carvalho Júnior said...

Como fazemos o melhor que podemos, nós mesmos "produzimos" nossas pérolas. Até o dia em que percebe-se que que tenhamos ferido nunca mais o desejrá de volta....

De Carvalho Adilson Júnior
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